Na última segunda-feira, 26 de setembro, Stana Katic subiu ao palco do Westside Theatre em Nova York para encenar a peça "White Rabbit Red Rabbit" - e eu fui umas das 237 pessoas sortudas que estavam na plateia para prestigiá-la em sua estreia Off-Broadway.
Devido à natureza da peça, há muito pouco que eu possa contar para vocês, em respeito ao autor e a todos os artistas que futuramente estrelarão o espetáculo. Mas, usando como base resenhas de apresentações anteriores dessa peça de sites especializados (como Hollywood Reporter e Broadway World) para delimitar o que posso contar, tentarei explicar mais ou menos do que ela trata e como Stana se saiu.
Os produtores da peça, Devlin Elliott e Tom Kirdahy, abriram a noite subindo ao palco para ditar algumas regras (a principal sendo "sem fotos fora de hora" - quem desobedecer, seria expulso do teatro), e apresentar Stana dizendo que "para dois homens gays, isso é incomum, mas conhecer Stana foi amor à primeira vista". Eles completaram a apresentação ressaltando que "é preciso ser um artista muito especial para ter coragem de fazer esse show," e que muita gente talentosa e de renome recusou participar.
Como já era de se esperar, Stana foi ovacionada de pé pela platéia quando subiu ao palco. Ela agradeceu o carinho e recebeu o roteiro, pela primeira vez, das mãos dos produtores. Ela começou com uma contagem de quantas pessoas haviam no teatro - que mais tarde entendemos o motivo disso. Todo mundo se levantou e, conforme ela ia apontando para cada pessoa, essa pessoa seguia a contagem dizendo o número em voz alta e, logo depois, se sentando. Eu estava na 5ª fileira, na lateral, e fui o número 98.
À partir de agora, começa a ficar difícil, para mim, dar mais detalhes. Vou tentar explicar o porquê contando a origem da peça:
"White Rabbit Red Rabbit" foi escrita pelo iraniano Nassim Soleimanpour em 2010, quando o autor foi proibido de deixar seu país. Logo no começo da peça isso é explicado: no Irã, os homens são obrigados a servir ao exército - se não o fizerem, não têm permissão para tirar seu passaporte. À partir de um sonho no qual ele estava num palco prestes a cometer suicídio, Soleimanpour começou a pensar em como poderia contar uma história e atingir audiências à distância. Foi então que ele resolveu escrever sua primeira peça em inglês, para que ela pudesse "viajar" em seu lugar. O autor, inclusive, dá seu email (nassim.sn@gmail.com) para que as pessoas escrevam para ele contando o que acharam de sua peça - "caso ele ainda esteja vivo".
Aliás, a gente se refere a "White Rabbit Red Rabbit" como uma "peça," mas ela não é exatamente isso. Não há uma trama, ou personagens, ou diálogo, como uma peça convencional teria. Stana não estava naquele palco interpretando uma personagem - ela era si mesma, Stana Katic, atriz e, antes de tudo, uma pessoa. "W3R" é uma narrativa de Soleimanpour na qual cada artista que a interpreta apenas empresta sua voz ao autor. Então Stana não era nada mais do que um instrumento de comunicação entre Soleimanpour e o público. Ela seguia as ordens do roteiro - querendo ou não - e, assim, dava vida à história desse homem em uma prisão (figurativa, mas ainda assim uma prisão com limitações que causam efeitos psicológicos no "preso").
Todo o enredo tem relação com essa prisão de Soleimanpour. São contadas algumas fábulas de animais (com coelhos, ursos, corvos e afins) que Stana chama gente da plateia para ajudar a ilustrar - e é aí que os números lá do começo são úteis. O roteiro manda chamar a pessoa de número 5, 7, 11, etc, para "voluntariado forçado" nessas atividades, seja subindo ao palco para interpretar um animal, seja para ficar no seu assento mesmo, cronometrando ou tomando notas do que a Stana (ou melhor, o autor através da Stana) fala. Mas ela não se safa de interpretar animais, não! Aliás, essa parte da peça é bem engraçada, e Stana arrasa muito na comédia física.
Mas logo o show toma um rumo mais sério, ainda usando de fábulas para evidenciar certos comportamentos humanos. Stana faz muito bem a transição das gracinhas onde se ajoelhava no chão fazendo aquelas caras & bocas que tanto amamos, para um momento mais introspectivo sentada no sofá - onde ela derramou algumas lágrimas e destruiu meu pobre coração. O autor aborda temas como liberdade de expressão (ou a falta dela) e comportamentos sociais condicionados a punir, obedecer e excluir - além do resultado psicológico dessas formas de opressão, que podem levar a depressão e suicídio.
Não consigo ressaltar o bastante o quanto Stana se saiu bem na apresentação. Ela parecia estar nervosa no começo - o que era esperado -, mas logo ela começou a ficar mais confortável e se soltou. E ela tem uma presença de palco incrível: não tinha como não olhar para ela ali em cima, não prestar atenção em tudo que ela fazia, porque ela praticamente efeitiçou a audiência. Como disse, ela não estava interpretanto um papel, então ninguém perdeu a "atuação" dela, exatamente. Apenas pensem na Stana como a vemos em entrevistas ou cenas de bastidores de projetos - bem humorada, divertida, mas que consegue ser muito delicada com certos assuntos, e dedicada ao que faz. Ela deu sua própria personalidade ao texto, o que obviamente tornou a experiência muito mais memorável para os fãs. O teatro era pequeno e o palco baixo, o que dava uma sensação muito intimista à apresentação. Além disso, Stana saiu do roteiro algumas vezes para dar suas opiniões próprias ou fazer uma ou outra gracinha - sem contar perguntar ao público se ele estava acompanhando uma das fábulas um pouco mais complexas ("Vocês estão acompanhando? Não, isso não está no roteiro, sou eu mesma quem está perguntando. Vocês estão conseguindo entender? Porque isso pode ser meio confuso."), o que tornou tudo ainda mais especial.
Alguns outros pontos que me veem à mente:
- Logo no começo, o roteiro tinha uma frase com as palavras "polícia" e "assassinato," e óóóbvio que a plateia já pensou em Kate Beckett - e Stana não ficou atrás: ela repetiu a frase meio que rindo, sabendo exatamente porque o pessoal reagiu daquela forma.
- Num trecho do texto, o autor fala que queria que sua obra viajasse o mundo, para "Paris, Londres, Rio de Janeiro" - e obviamente nessa parte eu (sozinha) soltei um "Uuuuuhuuuuul!" Hahaha Perdão, Stana. Perdão, plateia. Não resisti.
- A peça termina em "aberto", com uma fã lendo as últimas páginas do roteiro. Nós fomos obrigados a sair do teatro sem ~saber o final~, mas é claro que tudo acabou bem, já que Stana estava sã e salva atendendo os fãs lá fora.
- Ponto alto da peça: Stana interpretando um guepardo imitando um avestruz. Só imaginem...
- Sobre como eu fui parar no palco: num das fábulas (justamente a que dá nome ao espetáculo, sobre 5 coelhos: um vermelho e o restante, branco), Stana contou novamente com a ajuda da plateia. Mas, diferentemente das vezes anteriores, dessa vez o autor não designou o número dos participantes, então Stana ficou livre para chamar quem quisesse. Logicamente, vários bracinhos foram ao ar. Quem me conhece, sabe que sou patologicamente tímida. Eu queria participar (porque quem não quer subir ao palco com Stana?), mas tinha pavor de subir lá na frente de tanta gente. Daí eu meio que levantei a mão na frente do meu corpo só (e não sobre a cabeça como a maioria), e fiquei com a cara desse emoji: ? E não é que funcionou? Fui a última a ser escolhida e nem acreditei - gesticulei, apontado pra mim mesma, "Eu?" e Stana confirmou com a cabeça que sim, era eu que ela tava chamando! Haha
Subimos ao palco e Stana começou a explicar a historinha e o que aconteceria - mas que antes posaríamos para uma foto fazendo cara de coelhinhos (por ordem do roteiro, e o único momento em que isso foi permitido na peça). Obviamente que Stana ficou fofa enquanto o resto de nós ficou horroroso, mas ok. Hahaha
Depois disso, ela saiu do meio do palco e se posicionou do lado que eu estava para ler o roteiro e deixar que fizéssemos a nossa parte na peça. E nessa hora que ela reparou num detalhe: tinha 6 "coelhos" no palco, e não 5. Haha Não sei bem quem foi o extra, mas Stana agarrou duas meninas, colocou elas de braços dados e disse, "Pronto, vocês são um coelho só." Mas todo o esquete foi bem rápido e não precisamos "atuar" muito.
(Créditos: @fan1bsb97 & @stana_katic_fr)
Enfim. Acho que contei muito até, mas acredito que não tenha entregado a trama mais do que o permitido. Só sei que foi uma experiência inesquecível, e acho que todos os sortudos que estiveram naquele teatro sabem o quão especial foi a apresentação. "W3R" evidenciou o quanto Stana ama atuação, e o quanto ela nasceu para fazer exatamente isso. Mal posso esperar para que ela volte aos palcos - de preferência, em longa temporada.
As fotos em UHQ do espetáculo, assim como algumas tiradas por fãs na hora permitida, estão na galeria: