[N.T.: entrevista antiga, lá de 2009, mas é bem interessante. Ela fala da sua carreira, estudos, família, infância,... Leitura orbigatória para qualquer Stanatic.]

A atriz Stana Katic está com tudo. Após ter papéis coadjuvantes em dois dos filmes de maior sucesso do ano passado [N.T.: 2008, no caso.], "007: Quantum of Solace" e "The Spirit - O Filme", a estonteante canadense ganhou o papel de protagonista na nova série policial/romântica da ABC, "Castle", interpretando a detetive Kate Beckett, uma policial da NYPD durona que se encontra na lamentável posição de ter o arrogante escritor de mistérios best-seller Richard Castle (Nathan Fillion) seguindo-a para fazer pesquisa para seu próximo livro. Mas não apenas ela descobre que os instintos criativos para solucionar mistérios de Castle a ajudam a resolver os assassinatos mais desafiantes da cidade, como também ela percebe seu frio exterior derretendo sob o charme do autor.
Stana Katic sentou conosco num restaurante grego local para falar sobre diversos tópicos que motivam essa bela e inteligente atriz. Eis o que se passou:

Vamos começar falando de "Castle". Lembra bastante os diálogos das comédias românticas do anos 30 e 40, que a série dos anos 80 "A Gata e o Rato" ("Moonlighting") mais tarde copiou. Sua personagem também é bastante complicada, com um pouco de sua história vindo à toda a cada episódio. Ela é alguém que poderia ser o que quisesse, mas escolheu ser tira.
Sim, tudo isso é verdade. Ela era uma típica garota da sociedade de Manhattan, até que lhe aconteceu uma tragédia pessoal que mudou seu curso, e ela entrou para a academia de polícia para ser tornar detetive. Acho que ela é motivada pelo seu desejo de ver a justiça prevalecer e sua empatia pelas vítimas e suas famílias. Ela é uma mulher, ou seja, ela é naturalmente forte. Ela tem essas maravilhosas facetas, também: esperança - às vezes uma esperança quase infantil -, dúvida, confiança. Há uma certa qualidade de Joana D'Arc nela, eu acho. Ela tem maneiras diferentes de se comunicar com as pessoas em diferentes cenários. No trabalho, você só pode ser um tipo de pessoa, enquanto que com Castle, ela deve manter um certo decoro por ora, mas conforme avançamos e ele a conhece melhor, vamos vendo mais de suas camadas.

Você e Nathan Fillion parecem ter uma boa química.
Ele é engraçado. Ele é muito legal, muito gentil. Não sabíamos que ambos éramos canadenses até estarmos escalados para a série. Foi legal ter esse laço através de certos "canadianismos" que trazíamos à tona de vez em quando. (risos)

Tipo o quê?
"Eh?", por exemplo. Sempre falo "eh" o tempo todo. (risos) O que foi estranho foi que descobrimos que episódio sim, episódio não da série, um dos atores convidados é canadense. Foi tipo "Uau, estamos nos infiltrando!" (risos)

Achei que você se destacou bastante em "The Spirit", o que não era fácil com tanta cena linda em CGI [computação gráfica]. Como foi trabalhar em frente a uma tela verde com [o diretor] Frank Miller?
Amo Frank. Amo sua criatividade. Ele é um diretor diferenciado. Ele trabalha a partir de imagens, e é um verdadeiro gênio. Ele tem tantas histórias a contar, e trabalhar com ele foi um privilégio e muito educativo, pois ele dirige pintando. Ele pinta a cena e você tem que falar com ele nesse modo meio abstrato. Ele é muito aberto e não liga para egos. Ele só se importa com o trabalho, o que é muito excitante em se ter por perto. Ele é muito poético. Como escritor e diretor, ele é muito elétrico e pinta uma imagem com suas palavras. Estou ansiosa para seu próximo projeto. O modo como ele mistura história e beleza visual em algo como "300" é realmente único. Ele talvez faça uma sequência de "300" que conta a história da guerra entre persas e gregos, que se passou no mar. O personagem de Zoltes tem essa fala incrível na qual ele diz "Por que todos os meus homens tomaram o lugar das mulheres e minhas mulheres viraram homens?" Os gregos venceram os persas no mar e o único navio persa restante era comandado por uma mulher. Frank adora história da Grécia antiga e de Sparta, e histórias desta época.

Tantas das nossas histórias modernas podem ser rastreadas até a Grécia antiga.
É, e tem coisas incríveis vindas da Pérsia, Índia, China. Há culturas antigas com histórias incríveis pelo mundo todo. Muitas culturas aborígenes têm histórias incríveis também. Dito isso, Frank é fascinado por essa era em específico e a história desta batalha foi decidida com um única, e bem simples, manobra - os navios persas eram muito grandes e atacavam os gregos por todos os lados, e os navios gregos, que eram bem pequenos e rápidos, meio que explodiram a sua formação, como uma supernova, e atacaram todos os persas, esmagando-os, com exceção daquele único navio, liderado por uma mulher.

Se você olhar em todas as outras espécies, tirando o homem, a fêmea é a dominate entre os dois sexos. E alguns dos maiores líderes da história eram mulheres, como Cleópatra.
Mulher fenomenal! A acho fascinante. Estou apenas começando a aprender sobre ela e suas capacidades diplomáticas. Manter Roma afastada durante seu reinado - eles poderiam facilmente ter chegado e tomado tudo, mas ela manteve o Egito tributando a Roma, e conseguiu ainda manter os egípcios sob controle. Ela foi a única comandante ptolemaica a aprender egípcio, a adotar sua antiga religião, tornando-se assim querida pelo povo. Ela meio que se apaixonou. (risos) Veremos se a verdade sobre isso algum dia virá à tona. No mínimo, se apaixonar por esses homens poderosos, César e Marco Antônio, foi uma estratégia brilhante. E ela não era nada bonita. Ela era carismática, muito inteligente: falava latim, grego, egípcio, e sabe Deus quantas línguas e dialetos a mais. Toda sua família, seus irmãos e irmãs, eram contra ela, e ainda assim ele era a preferida do seu pai. Sabe, é engraçado, acho que Michael Corleone [de "O Poderoso Chefão"] é um personagem incrível, mas temos essa história em nossa mídia cultural na qual apenas homens interpretam personagens assim. Nunca me vi interpretando nada diferente desses personagens.

Claro. Ninguém que ser Connie. Todos querem ser Michael.
Com certeza. E não é por causa da dinâmica masculina-feminina. É o conceito de família, de dever, de paixão individual perante o dever e a lidernaça, e o que é necessário para liderar, que me fascinam. É tão incrível, cara. Estive no castelo Hearst [em San Simeon, na Califórnia] este final de semana passado, e o sr. Hearst teve uma arquiteta trabalhando para ele chamada Julia Morgan, aparentemente a arquiteta mais importante de sua época. Foi ela quem fez San Simeon para ele. Eles trabalharam juntos. Ela era tipo sua "esposa do trabalho", e eles criaram essa arquitetura fascinante, e ela construiu uns 700 projetos arquitetônicos em sua carreira, o que é espantoso quando se para para pensar. Durante uma época em que apenas 20% dos americanos tinha acesso à energia elétrica, o castelo todo tinha eletricidade. Para fornecer água, ela pegou a nascente na montanha e afunilou colina abaixo em boilers, que esquentavam a água que eram usadas em duas enormes piscinas no terreno. Mulher fascinante. Ela seria um ótimo assunto para um filme.

Frank Miller parece ter uma séria afinidade com mulheres fortes em seus trabalhos.
Ah, ele ama mulheres, numa maneira bastante Marcello Mastroianni. Ela as ama em todas as formas, tamanhos, níveis de inteligência e sanidade. Ele ama o feminino. E ele é tão garoto em relação a isso, é lindo de se ver. E "The Spirit" mostra muito esse amor por mulheres, por ser recheado com todas essas personagens femininas incríveis e fortes. Você já leu "Zorba, o Grego"?

Claro. Adoro o filme, também. Você gosta do filme?
Adoro o filme, mas adoro o livro ainda mais. O livro realmente mexeu comigo, porque fala sobre esse rítmo de vida e existência com essa necessidade e esse desejo em viver, essa vontade de viver. É como uma mão passando pela terra. Ela luta para existir, mas de modo pleno, vibrante, elétrico. O personagem Zorba é incrível, e ele amava as mulheres da mesma forma. Nikos Kazantzakis é um escritor incrível.

Você trabalhou com o grande Robert Benton em "Banquete do Amor" ("Feast of Love"). Como foi isso?
Ele ama o que faz. Ele é um diretor fantasticamente delicado, passional e complicado. Ele vê a vida de maneira muito vívida. Ele usa a memória para dirigir seus atores com muita paciência. Ele era como manteiga: muito rico em se trabalhar no que foi, de muitas maneiras, a primeira grande experiência em filmes. Acho que ele tem mais histórias a contar. E ele é muito poético à sua maneira, também. Ele e Frank Miller são poéticos de modos muito diferentes: o sr. Benton é mais "flor" enquanto Frank é um pouco mais "espinho". (risos)

É, mas lembre que esse é o cara que escreveu "Bonnie & Clyde", então a cor da violência e escuridão também fazem parte de sua paleta. Em seus filmes, coisas ruins vêm do nada e acertam as pessoas com força. Em "Banquete do Amor" também.
É, é verdade, com certeza. Era uma história de amor, mas também havia elementos sombrios, que eu não diriam que eram necessariamente "ruins". Apenas acho que são parte da vida. Tragédia é uma parte natural da vida. E há algo de incrível nisso, se for retratado com honestidade, como foi o caso de "Bonnie & Clyde" e "Kramer vs. Kramer". Acho que a melhor palavra para descrever o trabalho do sr. Benton é "honesto".


Você foi uma bong girl, mesmo que brevemente, no último filme da série, "Quantum of Solace". Como foi isso?
Foi o máximo. Eu realmente queria fazer parte deste filme, e tentei o papel de Strawberry Fields originalmente, mas eles acharam que eu não era a pessoa certa para ele, mas eu também não queria interpretar alguém que acabaria morta, e todo mundo morre nesse maldito filme! (risos) Mas passei três dias trabalhando naquele estúdio lendário em Londres. Daniel Craig foi ótimo, muito engraçado, muito charmoso. E Marc Forster foi um diretor incrível. Ficamos amigos e ele tem um toque incrivelmente leve como diretor, mas ao mesmo tempo, tem essa impressionante força interior, que é um combinação incrível para um diretor. De muitas maneiras, ele me lembra o modo como Johnny Depp interpretou o personagem de Sir James Matthew Barrie em "Em Busca da Terra do Nunca" ("Finding Neverland"). Me pergunto se Johnny baseou sua performance em Marc.

Você parece ter uma perspectiva muito serena da vida, o que não encontramos em muitas pessoas em Hollywood.
É estranho trabalhar nessa indústria às vezes. Quando preciso de um momento para ter uma perspectiva, quando sinto que estou sendo ridículo quanto a alguma coisa, eu me afasto e tento me comunicar ou ter uma comunhão com a verdade, então me dou conta do quão ridículas são essas procupações. Elas não significam nada! Em 300 anos, o que nós e nossos insignificantes problemas significarão para as pessoas? O que açguém como William Powell [ator americano famoso nos anos 30] significa para as pessoas hoje em dia? Um dos maiores atores, uma referência em performance e estilo de menos de um século atrás, e é totalmente esquecido pela maioria das pessoas.

Sinto o mesmo sobre alguns dos meus diretores preferidos.
Como quem?

Minha nossa... William Wellman, John Sturges, Robert Aldrich, Don Siegel, até John Ford, todos os caras que influenciaram os caras dos anos 70, muitos dos quais já esquecidos pelas gerações que os precederam.
É, são todos incríveis, mas a maioria das pessoas não sabem quem eles são hoje em dia, o que é um choque, especialmente com alguém como John Ford, que influenciou todo mundo.

Sabe como Orson Welles se preparou para "Cidadão Kane" ("Citizen Kane")? Ele assistiu "No Tempo das Diligências" ("Stagecoach") umas 47 vezes seguidas.
(risos) Brilhante! Adorei.

Vamos voltar a falar de você. Você nasceu e foi criada em Hamilton, Ontario [Canadá].
E cresci nos arredores de Chicago [EUA] também.

Quando você se mudou para os Estados Unidos?
Quando eu era bem pequena, daí então eu ia e voltava para estudas, e visitar minha família. Esse foi o começo de nossa imigração para a América do Norte, então isso fazia parte.

Ambos seus pais nasceram na costa da Dalmácia [região que abrange territórios da Croácia, Bósnia e Herzegovina e Montenegro]?
Sim.

Quantos irmãos você tem?
Somo seis. Sou a mais velha. Há uns sete anos de diferença entre todos nós, de cima a baixo. Somos todos esquisitos, fazendo coisas diferentes pelo mundo, e eles estão todos no caminho de se tornarem adultos realmente interessantes, se bem quenão sei se algum de nós algum dia será um adulto, porque somos todos tão estranhos. (risos)

"Estranhos" deve signifcar que eles são bem interessantes.
São mesmo, e são todos lindos, muito alto, e todos muito aventureiros. São espíritos incríveis ew tenho muita honra em tê-los como meus irmãos. É como andar com um exército quando saímos juntos. (risos) Tenho muito orgulho deles.

O que seus pais fazem?
Temos um negócio familiar que eles construíram do zero. Numa maneira bem típica de imigrantes, eles vieram com nada e construíram um império. Nos temos propriedades e somos donos de uma loja de móveis. Lembro de brincar no depósito de móveis quando criança, e acho que esse foi o começo da minha onda imaginativa. Tínhamos todo um depósito dos anos 20 onde brincar. Tudo estava ao nosso acesso. Pegávamos essas enormes caixas nas quais despachavam os móveis, e as usávamos para fazer castelos. Eu brincava com dinheiro: milhares de dólares que ficavam nas prateleiras, nos meus 3 anos de idade, sentada no chão com clientes passando, e nem um centavo era perdido. Essa é uma memória realmente maravilhosa, e era um playground extremamente maravilhoso onde começar a vida. Meus pais não tiveram o luxo da criatividade pois tiveram que construir uma vida, e tinham que sbreviver. Tenho muita sorte de poder ter seguido uma carreira criativa.

Mas eles puderam dar uma criação com privilégios a você e seus irmãos, ao que parece.
Eles nos educaram. Nos inspiraram. Nos desafiaram. E nós os desafiamos. Eles nos deixavam viajar. Eles nos deram aulas: piano, balé, caratê, e tudo o mais. Eles eram ambiciosos. São pais fabulosos e tenho muita sorte em tê-los.

Quando você soube que era atriz?
Eu tinha 4 anos, e uma moça numa pizzaria me perguntou o que eu queria ser quando crescesse, e eu disse "uma atriz," e meu pai ficou horrorizado. (risos) E esse sempre foi um elemento em minha vida desde então. Eu acordava às 6h30 da manhã e forçava [meus irmãos] a ir até a varanda e os fazia encenar peças, com fantasias de balé e roupas aleatórias que tínhamos. Quando a família se juntava em feriados, nós montávamos uma peça, apesar de que alguém sempre discutia e ficava chateado com o personagem que era obrigado a interpretar, e a peça caía aos pedaços. Mas isso sempre foi um elemento em minha vida. Não há nada melhor do que atuar.

A vida criativa.
Não só a vida criativa. Há algo de realmente incrível em ser ator, pois nos é requerido viver a vida de modo mais vívido, cinético e elétrico o possível. Lembro de ir a Nova York com uns jovens fotógrafos, e comecei a ver o mundo pelos seus olhos, a maneira que tiravam fotos. Seus olhos constantemente tiravam fotos, e o que eu acho que um artista faz é capturar um momento e o tornar algo notável. E ao capturar esse momento e atrair atenção a ele, eles o elevavam, e nisso elevavam nossa experiência em caminhar pela terra e enxergar as coisas. Acho que atores são abençoados com a oportunidade de vivenciar todos os nossos sentidos desta maneira, quando nos pedem para capturar todos os momentos, pois um dia eu poderei pegar este momento e ele irá criar um eco num personagem, ou será uma frase que poderei dizer à paltéia e talvez isso eleve nossa experiência. Não há nada melhor. Poderíamos estar trabalhando numa siderúrgica, onde você é forçado a anular diversos sentidos para chegar ao fim do dia. Então pela aquelas horas em que estivermos na siderúrgica, não estaríamos vivendo. Mas como um ator, é necessário que você se lembre disso, e o viva com intensidade.

A vida da mente, então.
E do coração. E do instinto. O coração é louco, e como um ator, você sempre deve mantê-lo aberto. Lamento pelos artistas que nos deixaram cedo. Eles mereciam ter alguém que os ajudasse a abrir seus corações novamente, e como ator isso é difícil, pois alguns são mais resistente, mas outros precisam de alguém por perto para tirar um pouco da dureza que se forma ao redor de seus corações. Você quase pode sentir isso acontecendo com algumas pessoas, e até com você mesmo, num nível quase que fisiológico. Você pode ver fisicamente também. As pessoas se comprimem. É algo animalístico no qual você usa suas costelas para proteger seu coração. O coração se feriu de algum modo. Quando você aprende a se abrir, é uma transformação incrível que ocorre: sua respiração fica mais repleta. O coração se abre. Eles ficam vulneráveis, mas há algo tão incrível numa vulnerabilidade corajosa assim. Você sempre precisa lutar por isso quando se é uma pessoa criativa, porque é muito fácil se fechar. Às vees, os mais sensíveis - e quanto mais "no momento" e sensíveis eles são - eles precisam da ajuda de outra pessoa para se reabrirem.
Estou tagarelando. O que mais você quer saber? (risos)

Você estudou no Goodman Theater em Chicago. Como era lá?
Eu não sabia o quão legal era enquanto estudei lá. (risos) Foi muito importante para os estágios iniciais de se tornar um ator, porque você ganha ferramentas. Eu era jovem, ingênua e sem experiência, então muitas dessas ferramentas me dadas na época, não dei o devido valor, e só agora entendo o significado delas. Mas tudo bem, porque você recebe uma informação, e então seu corpo, mente e coração estão leves, você está pronto para recebê-la e ela sempre se acomoda em você. Não acredito que atuação seja algo que se completa. Como todo criador, vocês está sempre aprendendo mais. Na verdade, estou fazendo um curso agora de Suzuki, que é um tipo de treinamento baseado no teatro japonês. É uma mistura de artes marciais e treinamento para teatro. Ajuda um ator a aprender a se manter aberto em moemntos de resistência física, que pode vir de qualquer jeito: estresse, dor física ou mental. Ele te ajuda a se comunicar através disso tudo, o que é realmente incrível. Voltei a estudar isso depois de aprender um pouco na escola de teatro. Queria retomar contato com isso, pois ceio que foi a base de personagens como o de Russell Crowe em "O Gladiador", Lady Macbeth, ou Cleópatra, que são figuras poderosas que, por causa de sua grandeza, têm mais experiências do que uma pessoa normal teria. Porque além de tudo, eles ainda precisam se expressar. Você sabia que havia um momento no teatro da Grécia antiga, que era muito espiritual em sua concepção, na qual um padre vinha, convocava os deuses, e pedia por uma bênção. Na crença deles, essa bênção vinha ao padre, que por sua vez a conduzia aos atores, que então cantavam em resposta, e daí a peça começava. Acho isso muito maravilhoso, de várias maneiras. Os personagens que eles interpretavam eram tão grandiosos, tão maiores do que a vida, que acredito que a maneira deles lidar com isso era tirar de seus ombros e deixar que se tornassem responsabilidades dos deuses, de modo que eles eram apenas os conduítes dessa gradeza, desse poder enorme e insano, sem que isso sobrecarregasse suas vidas.
Acho que estou tagarelando de novo. Estou fazendo algum sentido? (risos)

Totalmente. Quando escrevo, e estou totalmente concentrado nisso, eu sinto como se estivesse canalizando. Você se sente assim quando interpreta um papel?
É, você se perde em si mesmo, e é a sensação mais incrível, realmente maravilhosa.

O que torna um artista diferente é que eles têm uma antena diferente da maioria das pessoas, então eles recebem e processam informações de maneira diferente.
É corajoso fazer isso, não é?

Acho que é um ato de fé. É algo sobre o qual não temos escolha.
Mas acredito que todos temos isso dentro de nós. Alguma pessoa têm a coragem de se entregar a sua infantilidade, e outras fogem disso e escolhem um caminho mais seguro.

Algumas pessoas também permitem que o sistema as roubem disso, que é o motivo pelo qual o sistemas foi criado: destruir qualquer vestígio de individualidade ou pensamento criativo que há em nós desde que somos crianças.
É, e quando eles chegam aos seus vinte e poucos anos, eles já esqueceram disso.

Mas se você der um giz de cera e uma folha em branco a uma criança de 4 anos...
Incrível, não é? Tudo o que podem fazer num espaço tão pequeno, é maravilhoso. Por isso que quando alguém lhe acusa de ser "infantil", acho que você deveria tomar como um elogio.

Fonte: The Hollywood Interview