De férias na Argentina, a protagonista da série de sucesso da AXN fala sobre sua personagem na TV e de seus outros projetos.
Stana Katic, a atriz que interpreta a inteligente e determinada detetive Kate Beckett em "Castle", transmitida pela AXN, está de férias pela Argentina e, de passagem por Buenos Aires, ela não quer saber dos melhores restaurantes ou do shopping center mais próximo. O que interessa à atriz, nascida no Canadá e criada nos EUA, são os detalhes da rede local de metrô e quer saber se é verdade, pelo que ela pode reparar em suas primeiras voltas na cidade, se os habitantes praticam tanto ioga quando os diversos locais para a prática da atividade espalhados pela cidade sugerem. Sua curiosidade e sua vontade em aprender o que há além da superfície é algo que Katic passa à sua personagem, uma das mais interessantes da TV à cabo, num campo no qual nem sempre é liderado por uma mulher forte.
"Supõe-se que Beckett é a melhor detetive da equipe; os rapazes também são muito bons, mas ela é a quem eles seguem. Eu gosto que seja assim. Desde o começo os criadores da série queriam que ela fosse uma personagem forte, uma mulher que é boa no que faz e não tolera brincadeiras," explica a atriz.
É claro que, após quatro temporadas e uma trama na qual ela sofria com o assassinato não-solucionado da mãe, no 5º ano da série tudo ficou menos dramático para Beckett. Grande parte dessa mudança tem a ver com o romance - mais do que tardio - com o escritor Richard Castle (Nathan Fillion), que a escolheu como musa para seus livros. Um relacionamento que a própria Katic fazia campanha com os roteiristas da série, que finalmente concederam seu pedido.
"Em algum momento eles tinham que dar espaço para a personagem mostrar como ela é fora do trabalho. Eles tiveram que colocar um pouco de diversão para que não ficasse solene e enfadonho. Também acho que ninguém acreditaria que, além de ser uma figura de autoridade, não tenha nenhum interesse que não seja o seu trabalho. Além disso, deve haver algum motivo para ela se atrair por este homem tão diferente dela. Não pode ser apenas porque ela vive através das brincadeiras dele," explica Katic, revirando os olhos para a prática habitual de Hollywood, na qual a mulher é apenas a companheira de aventuras do protagonista masculino. Este não é o caso de "Castle", que agora tem o desafio de balancear a crescente leveza de Beckett com a esperada, porém sutil, maturidade de Castle, mantendo o equilíbrio dessa série que é um fenômeno além da TV: há livros escritos por "Richard Castle", e até mesmo quadrinhos dedicados às aventuras de Nikki Heat, a personagem criada tendo Beckett como musa. Este universo deixa Katic próxima à ter sua própria boneca - algo que pode acontecer em breve, principalmente se ela realizar seu desejo de tentar a sorte como heroina de ação em filmes.
"Adoro fazer cenas de ação em frente a uma tela verde. Acho que seria uma experiência divertida praticar meus movimentos ninja para as câmeras num filme, algo semelhante ao que fiz em "The Spirit - O Filme", baseado nos quadrinhos de Frank Miller. Era semelhante a trabalhar em teatro experimental, no qual você tem um palco vazio e tudo brota da sua imaginação. Isso requer um tipo de interpretação que é muito peculiar, muito interessante. Na verdade, me sinto muito confortável em qualquer set," diz a atriz, que recentemente participou de dois filmes muito aguardados no circuito independente. Num deles ela aparece em "CBGB", o filme que retrata a história do lendário bar de Nova York, local essencial do movimento punk americano, interpretando Genya Ravan, importante cantora deste movimento.
"Eu precisava de uma experiência que fosse além do ciclo da TV, da chance de interpretar uma personagem diferente, num cenário diferente. Nesse caso, pude interpretar uma personagem real, Genya Ravan, a quem eu conheci. Ela é fabulosa, tem uma voz incrível; eu sentei com ela para ouvir a sua música, suas histórias sobre o emergente movimento punk de Nova York. Ela foi parte deste mundo, era amiga do dono do CBGB, Hilly Kristal, que é interpretado por Alan Rickman. A maior parte das minhas cenas foram com ele e Rupert Grint," relembra Katic com um sorriso, depois de ter passado tanto tempo com os intérpretes da série "Harry Potter", para o deleite de todas as crianças que passaram pelo set de filmagem. Mas este não foi seu único filme deste ano. Para mostrar que era capaz de mais do que interpretar a detetive que a tornou famosa, a atriz fez a poetiza Lenore Kandel no filme "Big Sur", que terá sua estréia mundial no Festival de Cinema de Sundance, em fevereiro. [N.T.: na verdade, o festival é em janeiro. E "Big Sur" foi gravado em 2011, e não este ano] Outra personagem baseada em uma pessoa real, e uma outra artista e outra mulher forte para Katic que, apesar de não vir de uma família do meio artístico, diz que sempre sonhou em fazer isso. "Eu queria explorar o ponto de vista de outras pessoas, suas vidas. Amo isso. Sempre quis fazer isso porque eu sentia que apenas uma experiência de vida não era suficiente para mim," diz a atriz, que ficou se perguntando, como se procurasse outras razões para explicar porquê faz o que escolheu fazer desde a infância, quase instintivamente. Ela fica quieta, sorri mais para si mesma do que para o resto do mundo, e diz: "Sim, é por isso que eu escolhi ser atriz."
Com sua vocação firme e após um desvio pela faculdade de Direito, ("pensei que salvaria o mundo e que essa coisa de atuação não era muito prática"), Katic começou a pensar em deixar Chicago para começar sua formação teatral e tentar a sorte em Hollywood.
"Foi uma decisão difícil. Lembro que estava tentando deixar ao acaso. Joguei os dados e decidi que se saísse um determinado número, eu iria. E saiu. Então decidi um mês, joguei o dado, e saiu o número de novo," ela se lembra rindo, mas então o riso virou emoção. "Quando eu estava prestes a ir, eu estava muito nervosa com tudo que estava por vir e como eu teria quatro dias de estrada pela frente, sozinha, eu não sabia nem se meu carro velho aguentaria a viagem. Então minha mãe me deu um colar dela e me disse que ele me protegeria. E foi isso, me despedi dela, do meu pai, meus irmãos, e fui embora," conta a atriz, e as memórias quase a deixam em lágrimas. Imediatamente ela ri, pois reconhece que esse foi apenas o começo da sua aventura em Los Angeles, uma cidade não exatamente amigável com a legião de aspirantes a atores compondo grande parte de sua população.
"É uma cidade grande, onde você nunca sente que está em uma cidade, pois não há um centro. As distâncias são enormes e não se juntam os espaços. As pessoas ficam mais tempo sozinhas lá do que em qualquer outro lugar que eu conheço. E a maior parte do tempo passo no carro, no trânsito," diz a atriz, que decidiu parar de reclamar e fazer algo para ajudar a mudar a cidade em que vive. Assim nasceu o Alternative Travel Project, uma iniciativa que propõe, entre outras coisas, substituir o carro pelo transporte público e de bicicleta. "Um dia eu estava no meu carro e foi a primeira vez que eu andava no banco do passageiro, pois meu irmão foi visitar e estava dirigindo; foi uma experiência tão agradável, tão relaxante não ter de se preocupar com o tráfego e a possibilidade de bater, que eu comecei a olhar para a cidade de uma forma diferente. É um lugar cheio de pessoas talentosas e criativas, e com muitas influências, que não deveria ser difícil implementar esta idéia de uma cidade melhor, mais agradável e menos associada ao carro. Os recursos estão lá, tudo o que é preciso é que, por exemplo, Tom Cruise pegue o metrô uma vez," conclui Katic, que nesses dias irá fazer a sua própria viagem de metrô, mas em Buenos Aires.
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Fonte: La Nación, Cherries and Coffee (scans)