Up All Night: Entrevista com Peter Bowes
Áudio da entrevista com Peter Bowes para a BBC Radio 5, falando de ATP, “CBGB,” “Castle” e mais.
Rhod Sharp: Ela é uma apoiadora incansável para fazer as pessoas saírem de seus carros e usarem transporte público. Ela é uma das estrelas da série de detetive de sucesso "Castle". E sua última empreitada mostra essa versátil atriz revivendo os dias de glória do lendário clube CBGB, em Nova York. Estamos prestes a receber Stana Katic, que está com Peter Bowes em Los Angeles. Olá, Peter.
Peter Bowes: Olá, Rhod. Boa noite de Los Angeles, e seja bem vinda a Stana Katic, que está aqui comigo. Na verdade, bem vinda de volta.
Stana Katic: Obrigada.
Peter: Nós conversamos há alguns anos sobre o Alternative Travel Project, com o qual você está envolvida em seus esforços em fazer com que as pessoas deixem seus carros em casa e explorem meios alternativos de transporte. É um projeto que floresceu nos últimos anos, desde que nos falamos. Sei que há diversas pessoas ouvindo isso ao redor do mundo, e sei disso porque elas vêm me twitando pelas últimas 24 horas, pois sabiam que você estaria no programa. E elas têm me contado sobre seus projetos alternativos de transporte, inspirado pelo trabalho que você faz aqui em Los Angeles. Falaremos disso num instante, mas antes gostaria de falar sobre "CBGB", o filem sobre - como disse o Rhod - o lendário clube em Nova York, que se viu no meio da cena musical alternativa nos anos 70. Blondie, Talking Heads, Ramones, Lou Reed, que faleceu nesse final de semana. Estavam todos lá em sua época. Como você se envolveu nesse projeto?
Stana: Um amigo meu me disse que estavam criando essa obra, que era sobre história musical. Eu queria fazer parte dela. Eu não me importava com o tamanho do papel, só queria participar de um projeto que falava sobre história da música, e especificamente uma história da música que virou a Meca do punk rock na América do Norte e revelou grandes bandas, como os Ramones, como você disse, e Television, Talking Heads, Lou Reed, entre outros.
Peter: Tem um elenco e tanto. Alan Rickman e Rupert Grint estão no filme. Freddy Rodriguez também.
Stana: É. É um grande elenco. E também muito gentil e bem preparado. Foi impressionante ver todos chegarem foi muita pesquisa feita, e totalmente comprometidos com o trabalho. É difícil atuar num set em frente a um grupo de coadjuvantes e fingir que era aquele clube de rock. Além disso, tínhamos várias pessoas que realmente estiveram no clube, que eram parte de algumas das bandas que mostramos, indo ao set e nos contando histórias de bastidores. As pessoas vêm de todos os cantos, conforme tenho viajado para falar do filme, m contando histórias fantásticas, às vezes me mostrando fotos que jamais mostrariam publicamente, mas me contando um pouco do que acontecia naquele clube. Isso é incrível, realmente incrível, pois ele quebrou várias normas ociosas, e acho que é um pedaço especial de história da música para muitas pessoas.
Peter: Você é uma fã dessa era?
Stana: Sou. Acho que não dá para gostar de música tanto quanto eu gosto e não curtir os grupos que saíram desse clube. Então foi um grande prazer poder ouvir e ver pessoa reencenando, como disse, os Ramones, Talking Heads e tudo o mais, e conhecer a música que eu vinha ouvindo. E acho que é uma ótima oportunidade para pessoas que talvez não tenham crescido com essa música, ou apenas não estavam tão cientes dela, serem apresentados a isso. Acho que há muita garotada por aí usando camisa dos Ramones e nem sabem porquê. Essa é uma oportunidade fabulosa para apresentá-los a uma nova geração.
Peter: Stana, Rhod tem uma pergunta.
Rhod: Você teve a oportunidade de conhecer algum dos artistas originais? Alguém foi ao set dizer, "Ah, sim, isso está exatamente certo," ou algo do tipo?
Stana: Sim. Cheetah Chrome, interpretado por Rupert Grint, foi ao set com sua mulher e filhos. Ele e Genya, que é a personagem que interpreto - Genya é uma artista fabulosa e ainda se apresenta por Nova York -, ficaram amigos eventualmente, então foi bem legal tê-lo no set, porque ele ligava pra Genya e contava sobre algumas das cenas que fazíamos e ele se lembrava. Ele lembrava-se de estar presente quando alguma coisa ou outra aconteceram. E eles deram algumas risadas sobre isso. Isso foi legal. Fiquei feliz que todos pareciam gostar do resultado do filme.
Rhod: Maravilhoso. E quanto ao Alan Rickman? Vi o trailer, e é outra performance incrível dele, não é? Ele some dentro desse homem.
Stana: É sim, ele é maravilhoso. Antes de mais nada, é um honra trabalhar com alguém como ele. Seu currículo é totalmente incrível. E ele é tão comprometido com a atuação, o que é legal para mim, como sua parceira de cena, porque você não precisa de esforçar muito. Tudo já está ali, na pessoa com quem você está atuando. Então foi bem legal. E fiquei tão feliz e honrada em poder conhecê-lo e poder brincar um pouco na caixinha de areia com ele.
Rhod: É uma grande diferença de "Castle", é claro, aparecer num projeto desses. Como foi seu processo mental de mudar de era, mudar o personagem que você retrata?
Stana: Foi ótimo, é bom mudar um pouco de ares. Pude conhecer a Genya. Viajei a Nova York a trabalho, entrei em contato com ela e nos encontramos. Ela é fantástica; ela é uma mulher impenitente. E ela ou tocou, ou dormiu com os maiores e melhores do meio. Ela tem histórias fantásticas e foi maravilhoso conhecer alguém assim, que realmente viveu e aproveitou uma vida muito alegre. Mas é, foi legal mudar os ares. É diferente de "Castle", é claro, mas todo ator - eu acho; talvez esteja sozinha nessa, mas acredito que não - mas a maioria dos atores provavelmente querem experimentar a maior diversidade o possível, e eu sou assim.
Rhod: "Castle" tem uma agenda pesada para você, não é?
Stana: Tem. É uma agenda bem intensa sim.
Peter: Falaremos mais sobre "Castle" num instante, mas quero falar com você sobre o Alternative Travel Project, porque foi o que a trouxe aqui uns anos atrás. Ele é, basicamente, uma campanha com a qual você se envolveu, que incentiva as pessoas a deixarem seus carros em casa e ir ao trabalho de transporte público, e ficar uma semana usando o transporte público, correndo, andando, o que puder fazer para não usar o carro. Desde aquele começo, como o projeto se desenvolveu?
Stana: Ele cresceu. As pessoas sempre nos escrevem e contam suas histórias. A ideia é... É uma iniciativa que sempre encoraja as pessoas a sair da bolha de seus carros por um dia. Se todos no planeta ficassem sem carro por um só dia, isso significaria que pouparíamos 11,7 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), que é o equivalente à emissão do que o Quênia usa em um ano. E isso é apenas em um dia. Então você acorda um dia e, normalmente, entraria no carro e talvez, naquele dia, você diga, "Quer saber? Vou andar até o mercadinho e depois vou andar até o trabalho, depois andarei até a cafeteria, e por fim andarei até em casa." Fazendo isso, há reflexos na saúdes das pessoas, no meio-ambiente, e na cidade como um todo. Num nível de macrocosmo, você valoriza os negócios locais e ajuda a comunidade também. Tudo começou como uma iniciativa e inspirou várias pessoas. No Reino Unido, por exemplo, temos uma mulher incrível que criou um programa escolar sobre isso. Ela nos mostrou, e o postaremos em nosso site. Montamos vídeos com os clipes que as pessoas nos mandam. Elas dedicam dias sem seus carros. Isso pode parecer bobo num lugar que é um pouco mais avançado no transporte público. Cidades enormes como Paris, Londres, entre outras, têm sistemas de transporte público fantásticos. Mas aí você vem a Los Angeles, onde ele ainda está em desenvolvimento e estamos repensando o sistema de transporte público que tínhamos, e as pessoas estão exigindo mais dele, tentando criar faixas exclusivas para bicicletas melhores e mais seguras. Aí então é algo realmente incrível abrir mão do seu carro por um dia, ou por alguns dias, ou uma semana, e ir e voltar do trabalho desse modo. É bem legal, na verdade... Já até disse antes que acho muito inspirador, como atriz.
Peter: Mas para você é bem pessoal, não é?
Stana: É.
Peter: Há um projeto na Romênia, pro exemplo, que acontece às sextas-feiras, encorajando as pessoas a pegar o ônibus. E ele resultou em dois casamentos de pessoas que se conheceram no ônibus, e - mencionei os tweets mais cedo - recebi um tweet da Andrea em que ela dizia que nasceu uma bebê...
Stana: Ai, meu Deus. [Risos]
Peter: ... chamada Sofia. É verdade que você é a madrinha, ou será a madrinha?
Stana: Certo, a história é... Isso é ótimo, eu nem sabia. Que maravilhoso, parabéns. A história é que há uma escola na Romênia que decidiu assumir a iniciativa de não usar carros nas sextas-feiras. Como resultado disso, várias pessoas que trabalhavam na escola ou que participavam no projeto, começaram a se conhecer no ônibus ou andando e tal. Todos tinham diversos tipos de ligação com a escola. Bem, dois casais se formaram. Um deles até mesmo deu o primeiro beijo no ônibus. E esses casais, eventualmente, se casaram, e me escreveram essas cartas incríveis dizendo, "Obrigado, pois acabamos nos conhecendo por causa do projeto." E eles ameaçaram fazer de mim a madrinha deles, o que é muito gentil, e teria sido uma honra. E aí está, e agora têm um bebê. Isso é incrível. Mas está vendo? Essa é a questão. Nós absorvemos nossa cidade, nosso mundo, num ritmo em que você de fato consegue interagir com outros seres humanos. Isso cria um maior valor para sua comunidade. E isso, novamente, tem reflexos. Então isso é adorável. Obrigada por isso. Eu não sabia.
Peter: Essa é uma ótima história. E quanto a ciclovias em Los Angeles, e compartilhamento de vias com bicicletas, Stana? Isso está aparecendo em LA, como tem acontecido com outras cidades americanas, como Nova York e Boston?
Stana: Nova York é fantástica com bicicletas. Los Angeles está correndo atrás do tempo perdido agora. O Alternative Travel Project não é exclusivo de Los Angeles, ele é uma iniciativa global, e por isso que temos respostas de gente na França, Arábia Saudita, Egito, Bélgica, e muito mais - e por todas as Américas. Mas em Los Angeles, especificamente, nós temos a incrível oportunidade de encorajar essa escolha de estilo de vida pois temos acesso a essa enorme fonte de mídia, que é o cinema, televisão e tal. Se tivermos roteiristas da TV escrevendo sobre o metrô, talvez suas histórias sejam sobre esse estilo de vida, e talvez influencie o modo como as pessoas decidirão fazer as coisas no futuro. Eu viajava pela Mongólia um tempo atrás, e eu não conseguia ir de um lado de Ulan Bator ao outro, porque o trânsito era horrível. E vi uma ambulância que precisava chegar ao outro lado da cidade mas que não conseguia. Achei isso interessante, pois ali estava uma cidade em expansão, crescendo a uma velocidade a qual a infraestrutura não aguentava, e precisando de alguém que viesse e criasse uma oportunidade que fosse sustentável, para que as pessoas pudessem ir de um lado ao outro do que será uma cidade próspera. Isso requer alguém pensando num sistema público de transporte, para que a cidade pudesse continuar a seguir seu caminho. Acho que os contadores de história em Los Angeles criam essa história de que, para ter uma vida de sucesso, é preciso ter um carrão de luxo. Mas talvez também possamos contar que é maravilhoso interagir com a comunidade, e que isso acaba sendo uma vida maravilhosa e de sucesso, isso acaba sendo um luxo. Interagir com a comunidade, conhecer pessoas, curtir o espaço e a cidade em que se vive, sem adicionar à poluição, e talvez até vivendo de um modo mais saudável. Isso pode ser um tipo de história que exportemos dessa área de filme e televisão.
Peter: Maravilhoso. E quanto a carona? Isso entra na estratégia de vocês aqui? Pois olho para veículos grandes em várias cidades, e eles são totalmente vazios.
Stana: É, são sim. Por ora, focamos em modos de transporte que não sejam movidos a benzeno. Então nos focamos em bicicleta, andar à pé. Incentivamos também o transporte público, como metrô e, claro, ônibus e tal. As pessoas nos mandam vídeos usando um caiaque para ir ao trabalho. Uma garota foi de caiaque de um lado ao outro de um lago em Michigan, se não me engano, para ir ao trabalho. Há ótimas oportunidades fora o uso de carro. Acho que, no final das contas, essas ideias são uma maneira melhor de dizer, "Saia da bolha de eu carro".
Peter: Vamos mudar o assunto um pouco. Mencionei "Castle", e seria legal falar um pouquinho, nesses minutos que nos restam, sobre a série que a fez tão famosa. Lembre-se apenas que os espectadores do Reino Unido estão ligeiramente atrasados em relação aos EUA. Sei que os fãs estão a par das tramas mais recentes, e a principal delas com a sua personagem é um dilema moderno: amor, casamento e carreira.
Stana: Certo.
Peter: E se é possível ter tudo. Essa história foi difícil para você abordar?
Stana: Os roteiristas usaram isso recentemente... Nos EUA, já começamos a 6ª temporada. Olá, Reino Unido. Obrigada. Fico feliz em poder conversar com todos aí. Mas os roteiristas usaram isso como um conflito para a personagem, e achei isso muito interessante, pois acredito que seja algo com o qual muitas mulheres modernas precisam lidar. E vejo algumas mulheres encarando isso com muito sucesso. Por exemplo, no meu meio, há atrizes incríveis que conseguiram ter carreiras fenomenais e também manter um vida caseira linda. Um dos melhores exemplos, é claro, é Meryl Streep, que tem essa vida familiar maravilhosa. É claro que nós apenas a vemos externamente, mas ela é casada com esse cavalheiro há muito tempo e teve filhos com eles, e ganhou Oscars enquanto teve esses filhos e sendo casada, passando por todos os altos e baixos desse mundo. Acho que isso é possível. Não é preciso abrir mão de um lado para ter o outro. Então acho que, o que foi proposto, é algo que muitas mulheres encaram, mas eventualmente encontram uma solução. Então é empolgante saber que é possível ter uma vida familiar e uma relacionamento amoroso, gentil e compreensivo, tendo uma carreira satisfatória ao mesmo tempo.
Peter: É importante para você, como atriz, ter essas histórias desafiadoras, e não superficiais - que realmente causam um impacto nas pessoas na vida real?
Stana: Eu nunca quis ser didática. Para mim, não é esse o caminho. Mas gosto de coisas nas quais posso me jogar e acreditar. Eu preciso acreditar nela. E essa história vem sendo desenrolada há muito tempo. Sempre dissemos que ela é forte e comprometida com a justiça. E pareceria estranho que uma pessoa que se define tanto por esses elementos, repentinamente abrisse mão de tudo e virasse a ingênua. Não me parecia certo para a personagem. Então quando eles propuseram isso, fez sentido. É um conflito real, e acho que isso é importante. Mas o mais importante, como atriz, acho que é ter um conflito, e ter um personagem com defeitos, e, talvez, não ter tudo sempre tão preto no branco, mas estar um pouco na área cinzenta, e ser humano por um tempo. Acho que personagens assim são os mais interessantes para se interpretar.
Peter: Stana...
Stana: Posso dizer que eu adoraria...
Peter: Claro, por favor.
Stana: Eu adoraria trabalhar no teatro na Inglaterra. Sei que isso saiu totalmente do nada. Mas há séculos que converso com uns amigos e digo que adoraria ir à Inglaterra e fazer teatro.
Rhod: Algum agente ouvindo?
Stana: Seria péssimo. Eu ia me sentir uma oferecida.
Rhod: Por favor, entrem em contato.
Stana: [Risos]
Rhod: Obrigado, Stana. Foi adorável.
Stana: Obrigada, rapazes.
Rhod: Tchau, tchau. Obrigado, Peter.
Peter: Obrigado, Rhod.
Rhod: Mais uma vez, Stana Katic quer fazer teatro na Inglaterra. Kevin Spacey, está ouvido?