O LAist teve a chance de encontrar com a atriz Stana Katic, estrela da série da ABC "Castle" e do filme "CBGB", no CicLAvia do mês passado. Katic encerrou a cerimônia de abertura do evento falando sobre sua iniciativa Alternative Travel Project (ATP), que incentiva as pessoas a ficarem sem carro por um dia. Fazendo o que prega, Katic liderou um grupo de crianças desde o Museum Row ao centro de Los Angeles, curtindo algumas das ruas mais movimentadas de LA sem carros.
Queríamos descobrir mais sobre o projeto - fundado em 2011 pela atriz nascida no Canadá, que cresceu próximo a Toronto e em Aurora, Ilinóis, nos subúrbios de Chicago (duas cidades com um excelente sistema de transporte público) - e sobre sua opinião em relação aos problemas de transporte de LA. Nossa entrevista por telefone começou com apenas 5 perguntas, mas rapidamente evoluiu à partir daí. Katic mostrou-se uma defensora passional de transporte alternativo, novas tecnologias e os benefícios sociais positivos que sem tem quando exploramos nossa comunidade sem um carro - sim, mesmo em LA.

Quando você estava pedalando pela Wilshire durante o CicLAvia com aquele monte de crianças, você notou algo que você não teria notado se estivesse fazendo o trajeto de carro?
Nós pudemos parar para comer biscoito (antes de Koreatown), e eu não conheceria aquela loja se não fosse pelo modo como estávamos nos transportando. Até mesmo por estar andando com crianças, acabou sendo a hora perfeita para parar e aproveitar uma confeitaria local que havia aberto recentemente e, assim espero, encorajar a loja junto com outros negócios pequenos a darem a uma cidade grande uma sensação de cidade pequena.

Seu Alternative Travel Project encoraja as pessoas a escaparem da "bolha de seus carros" por um dia? Sete dias num mês?
Acho que a mensagem básica é ficar sem carro por um só dia. A questão é fazer uma escolha diferente. Quando eu faço isso agora, é num nível mais público, então abro mão do carro por 7 dias num mês e encorajo as pessoas a saírem sem carro também. É muito divertido ouvir algumas das histórias e aprender sobre as novas experiências das pessoas. Por exemplo - e já mencionei isso antes -, tem uma escola que abre mão de carros toda 6ª feira na Romênia, e por causa disso, diversos professores e pais que aderiam ao programa estava se conhecendo. Eles se encontravam em ônibus, nas calçadas, e por aí vai. E acabou que casais formaram-se por isso... Um deles até teve seu primeiro beijo no ônibus... e eles se casaram! Então há diversas histórias maravilhosas pelo mundo que eu fico sabendo, que acontecem porque as pessoas resolveram investir em seus transportes de uma nova maneira.

Parece ter havido uma mudança de atitude em LA recentemente, com um crescente movimento de bicicletas e pressão por transporte público, etc. Você percebe isso, e, se sim, qual você acha que é o motivo dessa mudança?
Definitivamente. Reparei que há mais consciência no sistema de trânsito - principalmente no metrô. As pessoas querem poder ir e voltar do centro da cidade à região oceânica, e poder chegar ao aeroporto sem precisar lidar com trânsito.
Acho também que estamos tendo muitas ideias criativas em relação ao uso do espaço, e não mais olhando para ele como algo restritivo. Então temos essas atividades na cidade - Midnight Ridazz*, por exemplo, ou Wolfpack Hustle**, nos quais as pessoas não olham para as ruas como zonas de tráfego exclusivo de automóveis, mas também como uma oportunidade de ter uma experiência social, e de andar de bicicleta ou caminhar. Isso cria uma maravilhosa energia que irradia pela cidade. Essas são oportunidades de socializar, e também de gastar energia, certo? Acho que isso atrai muita gente jovem que chega aos montes a essa cidade a cada ano.
Quando investimos em transporte de pedestres e em transporte seguro de bicicletas, o que estamos fazendo mesmo é investindo no coração de uma cidade. A metáfora é meio óbvia, mas estamos criando uma batida cardíaca muito sólida. Você está investindo no cidadão, nas pequenas empresas, e isso cria uma experiência incrível para qualquer um que faça parte da cidade - não só para quem vive lá, mas para os que estão só de passagem. Los Angeles é a meca do cinema mundial, e as pessoas vêm para cá só para ver esse mundo. Muitas pessoas vêm de locais do mundo que têm um maravilhoso sistema de transporte, então prover esse pessoal e aos cidadãos locais, acho que é isso que vai ajudar Los Angeles a florescer numa versão ainda melhor de si mesma.

Você pode falar um pouco sobre a influência global de LA?
Lembro de assistir a esse documentário sobre um prefeito que fez parte de uma grande transformação em Bogotá, na Colômbia. Ele falou sobre o fato de as cidades terem milhares de anos, e que o uso de carro... não tem. As cidades foram construídas ao redor de um diferente tipo de transporte, então se vamos ter uma cidade, então devemos pensar em criar acessos a todas as partes dessa cidade. Ela deve ser fácil de se viajar. O transporte do subúrbio dessa cidade não funciona muito bem, e vemos isso diariamente aqui em Los Angeles, onde temos um trânsito horrível.
Acho que as pessoas querem apenas aproveitar a vida nessa cidade. Se você anda pela sua cidade e você conhece os vendedores locais, a cidade, automaticamente, é mais segura. Eu vou me importar com o dono da loja de de comida árabe. Eu o conhecerei. Eu me preocuparei com a sua segurança devido a esse relacionamento pessoal. Essas coisas acontecem quando você sai da bolha do seu carro. E se em Los Angeles, uma das capitais de mídia do planeta, podemos fazer uma mudança positiva, então isso será passado adiante. Isso será transmitido para as histórias que contamos, pois essas histórias são contadas por roteiristas que, em sua maioria, moram em Los Angeles. Elas são inspiradas por momentos que, muitas vezes, eles mesmos vivem. E se começarmos a mudar as coisas um pouquinho localmente, então isso talvez apareça na mídia que exibimos, e então isso possa afetar outras partes do planeta que olham para Los Angeles de diversos modos... como um exemplo de como isso pode ser um ótimo estilo de vida. Acho que essa seria uma mensagem muito legal de se exportar.

Soubemos que você se interessa por opções sustentáveis de energia e novas tecnologias. Há algo que tenha chamado sua atenção recentemente e que você tenha incorporado me seu cotidiano?
Transporte alternativo. Quero ser muito clara quanto ao foco do Alternative Travel Project. É transporte à pé. É transporte de bicicleta. É o uso de transporte público como ônibus e metrô. Mas também são novas tecnologias. Há uma enorme quantidade de novas tecnologias que estão aparecendo e que criam fontes de transporte interessantes que não precisam de um tipo de veículo movido a petróleo.
Fomos apresentados a essa empresa chamada Arcimoto; é uma pequena companhia baseada perto de Oregon que desenvolve um veículo que é uma mistura de bugre e moto. Estou na fila para conseguir um de seus carros, e espero poder usá-lo para me transportar pela cidade.

Fora isso, estou constantemente em busca de novas tecnologias que existem por aí. Visitei a embaixada no Canadá aqui em Los Angeles, e havia um imigrante português que desenvolveu um carro feito todo de painéis solares e que funcionava com energia solar. Ele o dirigiu até o norte do Canadá e pelos EUA, até a Califórnia. Ele parecia ser muito interessante, quase como uma nave espacial. Lembro de vê-lo, e ter ficado muito impressionada e dizer que são nesses avanços tecnológicos que se vale à pena investir. Temos de criar oportunidades para que essas pessoas criem novas tecnologias. Temos de apoiar esses cientistas que criam melhores maneiras de vivermos nossas vidas e aproveitarmos nossos arredores, e isso faz parte do Alternative Travel Project. Isso ajudar a criar um futuro melhor para todos nós, o que é empolgante.

Você tem um caminho preferido em LA?
Eu caminho o tempo todo. Regularmente caminho até o trabalho [nos estúdios Raleigh, próximo aos estúdios Paramount. Levo cerca de uma hora indo para o trabalho, e uma hora voltando para casa. Esse caminho é muito legal, pois podemos ver uma parte mais antigas de Los Angeles, e às vezes eu encontrava pessoas pelo caminho que vivem nos prédios mais antigos. Essas pessoas adoram me contar histórias sobre suas casas. Se o exercício já não me fizesse bem, então essas experiências pelo caminho me fariam. E quando chego ao trabalho, estou com uma cabeça ótima para um longo dia de gravações.
Não quero que pareça que estamos usando Los Angeles como uma plataforma, porque não é isso. Só estou dizendo que Los Angeles é a capital da mídia e tem um efeito no mundo. O Alternative Travel Project existe seja em Los Angeles, seja em Dubai. Não acho que o ATP deva existir por um tempo indeterminado; a ideia é que ele atinja um objetivo e chegue ao fim; isso seria ótimo. Adoraria ver essa cidade atingir seu potencial em transporte local, e acho que isso teria um efeito positivo internacionalmente.

Já que "Castle" é uma série popular com uma base de fãs apaixonada, e você mencionou usar a influência da mídia de LA pelo mundo, quando as chances de incorporar algumas questões do ATP à série?
Adoraria que houvesse uma história assim. Isso seria ótimo - mas isso é uma decisão de Andrew Marlowe.

* grupo que se reúne mensalmente para andar de bicicleta pelas ruas de Los Angeles à noite.
** maratona mensal noturna de bicicleta.

[fonte]